Risco de crédito: O que é e qual a sua importância?

 O risco de crédito é um conceito fundamental em finanças, representando a probabilidade de que um tomador de empréstimo, seja uma pessoa física, uma empresa ou um governo, não consiga cumprir suas obrigações financeiras, resultando em perdas para o credor. A palavra “crédito” deriva do latim credere, que significa “acreditar” ou “confiar”.

Por Ronaldo Candiev*

No mercado financeiro, o crédito é baseado na confiança de que uma parte cumprirá suas obrigações de pagamento no futuro. Quando uma instituição concede crédito, ela está essencialmente acreditando que o devedor honrará seu compromisso. Essa confiança é a base do mercado de crédito e desempenha um papel central na economia global.

Compreender e gerenciar adequadamente o risco de crédito é, portanto, essencial, dado que esse mercado desempenha um papel crucial na fundação e sustentação das economias modernas.

Ele facilita a alocação eficiente de recursos financeiros, permitindo que empresas e indivíduos obtenham o capital necessário para investir em projetos, expandir operações, inovar e impulsionar o crescimento econômico.

O acesso ao crédito também viabiliza investimentos em setores fundamentais, como infraestrutura, educação, saúde e tecnologia, promovendo o desenvolvimento sustentável das nações.

Para se ter uma ideia da dimensão desse mercado, segundo o Institute of International Finance (IIF), o volume de crédito global atingiu 313 trilhões de dólares americanos em 2023, cerca de três vezes o PIB global (105 trilhões de dólares americanos).

Para os indivíduos, o risco de crédito determina as condições de acesso a financiamentos, influenciando as taxas de juros, os prazos de pagamento e os termos de cada empréstimo.

Uma gestão inadequada desse risco pode levar a crises de inadimplência e à insolvência das instituições financeiras, que, como a história nos ensina, podem desencadear recessões econômicas, aumento do desemprego e perda de riqueza, como ocorreu na Grande Depressão de 1929 e na crise imobiliária dos EUA em 2008.

Componentes do Risco de Crédito

Segundo a literatura financeira, o risco de crédito é composto por dois elementos principais:

- Probabilidade de Default (PD): Refere-se à probabilidade de que o tomador do crédito não consiga honrar suas obrigações, conforme estipulado nos termos contratuais.

- Severidade da Perda (Loss Given Default – LGD): Refere-se à perda potencial que o credor pode incorrer caso o tomador do crédito entre em default. A LGD pode ser expressa como um valor monetário absoluto ou como uma porcentagem do valor principal do crédito.

Em um contexto mais amplo de formação de carteiras de crédito e do ponto de vista teórico, a multiplicação da PD pela LGD resulta na Perda Esperada (Expected Loss – EL), que é uma métrica para a gestão do risco de crédito e a precificação de produtos financeiros.

Como meu sócio da BRZ Investimentos, Jaime Rangel, costuma dizer: “Não existe uma carteira de crédito ‘ruim’; o que existe é uma precificação inadequada para suportar determinado nível de perda.” Isso faz sentido quando consideramos que o preço do crédito é um subproduto do risco de crédito.

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Os 5 C’s do Crédito

Uma abordagem eficaz para a avaliação e mitigação do risco de crédito é a aplicação dos 5 C’s do crédito: Capacidade, Capital, Colateral, Caráter e Condições. Esses cinco fatores formam uma base inicial sobre a qual as decisões de crédito são tomadas e gerenciadas.

1. Capacidade: Refere-se à habilidade do tomador de crédito de gerar fluxos de caixa suficientes para honrar suas obrigações financeiras. A análise da capacidade envolve a avaliação do seu nível de renda, histórico de pagamento e estabilidade empregatícia ou da empresa.

Instituições financeiras utilizam modelos de previsão de fluxo de caixa e índices de cobertura de dívida para quantificar a capacidade de pagamento do devedor.

2. Colateral: Colateral é a garantia que o tomador de crédito oferece ao credor, que pode ser utilizada para cobrir a dívida em caso de default. A cessão de colateral é um dos principais mecanismos para redução da severidade da perda (LGD) e envolve a análise do valor de mercado, liquidez e segurança jurídica dos ativos oferecidos como garantia.

3. Capital: Refere-se ao montante de recursos próprios que o tomador de crédito tem investido no ativo ou projeto financiado. Quanto maior a proporção de capital próprio, menor o risco para o credor, pois o tomador tem mais a perder em caso de insucesso.

4. Caráter: Caráter refere-se à reputação do tomador de crédito e à sua intenção e histórico de honrar compromissos financeiros. Esta avaliação, muitas vezes considerada subjetiva, é baseada em análises qualitativas, como a revisão de históricos de pagamento e processos judiciais do devedor, entre diversos outros aspectos.

Em economias emergentes, onde a formalização e a documentação financeira podem ser limitadas e as disputas judiciais custosas e morosas, o caráter assume uma importância ainda maior.

5. Condições: As condições se referem a fatores externos que podem afetar a capacidade de repagamento do empréstimo, como condições econômicas, tendências setoriais e regulações estatais. Esse aspecto também engloba os motivos para a tomada de dívida (investimento, refinanciamento, alavancagem adicional) e a sua sustentabilidade.

Essa abordagem, embora abrangente, encontra eco e aprofundamento nas reflexões de pensadores como Howard Marks, que, em seu memorando “The Impact of Debt,” discute a prudência no uso do endividamento. Marks explica que o uso de alavancagem (dívida) aumenta os ganhos em cenários positivos, mas também amplia as perdas em cenários negativos.

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Ele ressalta que a quantidade prudente de alavancagem a ser utilizada depende da estabilidade dos projetos em que os recursos forem investidos e que, ao subestimar a volatilidade dos ativos e projetos, os investidores frequentemente se colocam em risco excessivo.

Dito isso, além de realizar uma análise extensiva dos itens listados, é necessário entender a natureza dos projetos, empresas e indivíduos para determinar o nível adequado de endividamento. Setores como saneamento e concessão rodoviária, por exemplo, geralmente apresentam baixa volatilidade, o que permite maior endividamento, pois a probabilidade de eventos adversos é reduzida.

Em compensação, aqueles setores com margens de lucro reduzidas e muito sensíveis a mudanças econômicas, como o varejo, deveriam ser mais parcimoniosos ao se utilizarem da alavancagem financeira.

Em suma, uma análise de risco de crédito completa vai além dos demonstrativos financeiros; ela exige uma visão holística, que abrange o entendimento profundo do nível adequado de endividamento, a avaliação precisa das garantias envolvidas, o contexto competitivo e a disposição do tomador em honrar suas obrigações.

Uma gestão de crédito prudente e adequada não apenas fortalece o sistema financeiro, mas também contribui para o desenvolvimento econômico, oferecendo oportunidades para os agentes econômicos e promovendo uma sociedade mais próspera no longo prazo. COMENTE!

*Ronaldo Candiev sócio na área de crédito privado na BRZ Investimentos. Ocupou a posição de Head de Fundos Listados no Departamento de Análise e Pesquisa da XP Inc. Ao longo de sua carreira, atuou como gestor e analista de investimentos em instituições financeiras, tais como: Bradesco Private Equity, GLP Capital, Hemisfério Sul Investimentos e HSBC (Brasil e UK). Na BRZ Investimentos ele atua na alocação e análise de Investimentos de crédito privado High Yield e High Grade, bem como contribui no processo de estruturação de novos produtos, atribuição de performance, negociação de ativos e captação de produtos. É graduado em Administração de Empresas pela FGV (ESAGS), pós-graduando em Data Science e Analytics pela USP (ESALQ), obteve a certificação Chartered Financial Analyst (CFA®) em 2017.

Fonte: https://www.moneytimes.com.br/risco-de-credito-rnda/

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